quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Opinião: Campeão Brasileiro de 87


Não nutro nenhum tipo de simpatia pelo Sport Recife. Menos ainda pelo Flamengo, instituição que por sua popularidade obteve ao longo da história favorecimentos grotescos (vide 1981), de modo que é interessante observar de fora a polêmica entre esses dois times envolvendo o título brasileiro de 1987 e como muitas opiniões são dadas de forma simplista sem a devida consideração dos fatos históricos e principalmente sem considerar que o tema é de fato muito complexo.

Creio que os dois lados tem bons argumentos para defender seu ponto de vista e que nunca haverá consenso entre eles, sobre os quais faço algumas rápidas considerações:

- O campeonato de 86 foi muito confuso, com mudanças de regulamento, times que se negaram a ser rebaixados (Vasco, Botafogo e outros), resultando na desistência da CBF em organizar o campeonato de 87;

sexta-feira, 26 de maio de 2017

A melancolia do fim da jornada esportiva

O rádio esportivo é algo muito forte. Talvez seja esse ar antigo e tradicional do rádio o que faz dele a combinação perfeita com o futebol. Lembro-me de quando criança meu avô sempre ouvia a Rádio Itatiaia, cresci entendendo que a rádio fazia parte da cultura de torcer. Na pobreza a família em torno do rádio acompanhando o Galo, na fartura, seja no estádio ou assistindo o jogo pela TV fechada o rádio sempre ligado amplificando um pouco a emoção.

Mas tem algo especialmente melancólico nessa cultura de torcer tendo a rádio itatiaia como pano de fundo: a música que anuncia o fim da jornada esportiva. Se o Galo perde, a melodia se mistura a tristeza da derrota; se ganha, após toda a repercussão do pós-jogo (entrevistas, coletiva do treinador, análistes, reprise dos gols, etc.) a melodia vem para dizer tudo é efêmero e que uma hora as coisas boas também acabam...



Música: Entrance Of The Bull March
Composição: Victor Young

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Dossiê 1937: O outro título nacional do Atlético

Introdução

A unificação de títulos, como já expus em outro texto é algo complexo. Ela seria dispensável se os torcedores não deixassem a história do seu time cair no esquecimento, pois ela também permite que uma instituição como a CBF defina o que foi importante ou não, cometendo alguns equívocos.

Não estou me colocando aqui contra a unificação, e entendo que como a memória dos títulos que não tiveram continuidade tendem a se perderem no tempo, fazendo a mídia e o próprio clube darem pouca importância a eles, a unificação é um recurso interessante, no sentido em que ela dá ao torcedor de hoje a dimensão da importância da conquista de outrora, possibilitando a história estar sempre viva e fresca.

Uma das injustiças dessa unificação é o não reconhecimento do título brasileiro de 1937 do Atlético Mineiro. O jornalista Odir Cunha que elaborou o "Dossiê pela Unificação dos Títulos Brasileiros a partir de 1959", aprovado pela CBF em 2010, não incluiu o título do Galo, mas disse ao jornal Hoje em dia [1] que:

"O pessoal ligado ao Atlético não pode esperar que a CBF vá se envolver neste trabalho porque eles não têm essa preocupação. A CBF é uma entidade muito mais política do que histórica. O esforço do clube deve partir de pesquisadores. A proposta é factível pelo que estudei. Havia representantes de quatro estados que eram considerados os mais fortes. Foi um torneio representativo, foi um título nacional importante porque foi inédito naquela época. Ocorre que foi organizado por uma entidade que não existe mais e isso pode dificultar um pouco."

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Títulos que se perdem na história

O modo como a média dos brasileiros lida com futebol está muito ligado à um tipo de fanatismo totalmente irracional, que dificulta um debate mais sério sobre algum assunto sem clubismo. Um tópico que é difícil discutir é a unificação dos títulos brasileiros de 1959 a 70, que aconteceu em 2010.

Como a única coisa que importa é a zuera, os torcedores que aumentaram o número de títulos foram a favor, e os torcedores que não tiveram nenhum ganho foram contra.

Sem entrar no mérito da questão, sou um admirador da história dos times, aqueles acontecimentos que vão se somando e formando a identidade de um clube e causando a identificação do torcedor por esse clube ou não. É inegável, por exemplo, que o time do Cruzeiro, com Piazza, Dirceu Lopes, Tostão e outros, campeão da Taça Brasil de 1966, teve enorme influência na subjetividade de toda uma população.

Taça Bueno Brandão - 1914
O que me incomoda nessa história é o torcedor que precisa da chancela de alguma instituição (seja CBF, FIFA ou a mídia) pra reconhecer a história do seu ou outro time. Explico. Se a FIFA não reconhece os títulos do Torneio Intercontinental como Mundial Interclubes da FIFA, ela como instituição está no direito de fazer isso. Duro, é o torcedor não reconhecet a equivalência histórica dos torneios.

Esse jeito brasileiro de torcer está muito mais ancorado na ideia de que "eu torço pelo meu time porque ele é o melhor" (mesmo quando claramente ele não é em alguns aspectos se comparados com outros times: títulos, número de torcedores, fanatismo...), do que "eu torço pelo meu time porque eu gosto desse time e ponto, independente se é o melhor ou não".

Mas voltando à necessidade da chancela das instituições, muito me incomoda a pouca importância dada pelos torcedores do Atlético e do próprio time aos títulos da Copa Conmebol de 1992 e 97 e a Copa dos Campeões de 1937. Embora não tenha sido o torneio mais importante da época, indiscutivelmente o nível técnico das Copas Conmebol conquistadas pelo Atlético era maior que a atual Copa Sulamericana, considerada hoje como "O outro lado da glória". Em ambas o Galo conseguiu a vaga por ter ficado em 3º colocado nos Campeonatos Brasileiros dos anos anteriores.

O outro caso, imortalizado no hino do clube, o título de Campeão dos Campeões que foi tratado pela imprensa mineira como Brasileiro na época, também é pouco lembrado. Digo, racionalmente lembrado, pois é cantado a todo momento. Mas fato é que o aniversário de 80 anos dessa importante conquista no início desse mês foi pouquíssimo lembrado.

É certo que a falta de continuidade de certos torneios contribui para que sua importância histórica seja minimizada ou até mesmo esquecida, mas o torcedor que tanto se diz fanático não pode minimizar suas conquistas.

À revelia da instituições atuais, "Nós somos Campeão dos Campeões" e isto é gigante.